quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FASES DE UMA VIDA



Quem diria, aquele pequeno ser que vivia chorando toda vez que ficava longe de mim. Se eu saísse de seu campo de visão, ele na hora abria o berreiro. Só podia fazer minhas coisas se colocasse uma camiseta que acabei de usar ao seu lado, enquanto dormia, assim sentia meu cheiro e dormir mais algumas horas, caso contrário, acordava e chorava para me ter ao seu lado. Até cheguei a pensar que ele seria extensão de minha perna, já que não desgrudava dela.


O tempo passa, o tempo voa e ciclos se renovam. Ele decide quando sair do banho, se quer o colo do pai ou da mãe e sua única forma de comunicação é o riso ou o choro. A gente esquece depois de grande, o que cada choro ou riso significou em nossa vida, aprendemos a nos comunicar, com um Ser Humano, sem que ele possa se expressar. Mas sempre acreditei que é essa a real forma de comunicação. SENTIR A PESSOA e não PRECISAR ENTENDER O QUE DIZ. Mas buscar avaliar o que passou e compreender o que, está acontecendo, pois trata-se de um estado do sentir.


Nos preocupamos com sua alimentação, higiene pessoal, doenças que aparecem, o modo como ele é recebido pelas pessoas que não conhece e como nosso "Girininho" recebe as pessoas.

Ai, o ciclo muda...

Nos doemos quando alguém chama sua atenção, defendemos nossa cria sim, isso é ser mãe, pelo menos por um tempo. Como um psicólogo amigo meu dizia: "Ser mãe é como agem as fêmeas no reino animal. Dão a luz, amamentam, brincam, cuidam, defendem, aliás, esses pequenos seres não podem se defender sozinhos. A fêmea ensina o que é perigoso ou não, ensina quais alimentos são melhores ou não, e assim vai, até o momento em que ela expulsa seus filhotes ou simplesmente some, dando a oportunidade única deles serem LIVRES e INDEPENDENTES.

Mas antes da independência, temos esse tempo todo pra curtir cada minuto essa cria...


Ensinamos a usar o canudinho, aprende a andar sozinho, chora, e começa a argumentar com seus "dá dá dás" pra com o tempo aprender a formar palavras e frases como: " A Alala rala de Alalaquala", pra mais tarde formar a frase mais consciente do que quer expressar: "Mamãe, eu odeio essa carninha." Vem as descobertas, interesses, brincadeiras mudam, não são mais brincadeiras paradas, agora tem que correr atrás da cria, pois tem escada, tem portão, tem rua... confesso que emagreci muito nessa época. Foi a melhor academia! Uma academia divertidíssima!

Vai a escola - um novo ciclo que se inicia.

Meu filho sempre quis ir a escola e em seu primeiro dia de aula, pasme. Ele simplesmente olhou pra mim e disse: "Pode ir mamãe, tchau." E eu? Fiquei parada no portão da escola com a professora dizendo: "Tchau mãe."

Agradeço a orientação da Tia Mery e da Vivian, sua primeira professora, depois de algumas ligações para a escola pra saber se ele estava bem, chegou uma hora que tive que ouvir (já conhecia a professora desde seus 10 anos de idade): "Mãe, teu filho tá bem e não quer voltar pra casa agora, quando ele quiser, a gente o leva (a escola ficava a 2 casas da minha na mesma calçada). Minha reação? Pois é... chorei porque ele não tava precisando de mim. Mas também foi só nesse dia, depois me acostumei e toquei a vida.

2 meses depois de iniciar as aulas, o "girino" que já estava perdendo a cauda me diz: " Não precisa me levar a escola, eu sei ir sozinho". E foi. puxando a mala com rodinhas, virou pra trás e gritou: "Para de me vigiar, eu sei ir pra escola sozinho!". Colocou a mala no chão, subiu sobre ela, tocou a campainha e ficou esperando a porta da escola ser aberta.

O ciclo da dependência total estava sendo rompido, agora com seu novo meio social, aprendendo coisas novas, vivendo, cheirando novos ares, ele começa o seu ciclo de independência aos 2 anos de idade.

Mas não para por ai, tem mais ciclos a serem abertos e fechados...


Depois que adquirrem mais liberdade, e vão a escola sozinhos, o que acontece? Amigos, reuniões sociais na casa de um, na casa de outro, festas de aniversários, reuniões de família e nosso "girino" que já deixou de ser "girino" e agora é um "sapinho", simplesmente está "circulando" pelo ambiente sozinho, conversando e tendo uns "papos cabeça" com as pessoas e quando você pergunta: "Como vai?" Ele te responde: "Bem obrigado, estou tendo uma conversa particular". AAAFFFF... Ele querendo independência e a mãe vigiando. Por isso que alguns filhos fazem parte do clube dos órfãos.


Os ciclos não param. Vem as perguntas que a gente tem que pensar bem pra responder: "Posso fazer uma pergunta bem séria pra você, mãe?" O que vc responde? "Lógico que pode." e pensa: "Lá vem bomba." - "Você fez sexo com meu pai?" Que mico pra mim, mas mãe tem que ter o raciocínio rápido! "Claro! Você é a prova viva disso!" Pelo menos ficou contente com a resposta. "Então sexo faz filho..." E você vê que agora, o "sapinho" vai saltitante contente que teve uma resposta objetiva e satisfatória. (Ufa!)

Mas os ciclos se encerra novamente para dar início a algo novo... bem novo e até aterrorizante para o "sapinho" e para mim.

Me separei quando o Victor tinha menos de 1 ano e o pai, foi para outro país a trabalho. Quase 8 anos depois, volta ao Brasil, querendo ver o filho. Apesar da distância, sempre manteve contato e nunca deixou faltar nada ao pequeno. Eu soube do retorno dele pelo Victor, pois se falaram por telefone. A ansiedade do garoto fez com que engordasse uns bons quilos e suas notas caíssem, ele esperou 1 mês e meio a chegada do pai.



Bom o final foi maravilhoso, como meu "sapinho" disse antes do encontro: "Mãe, eu vou reconhecer meu pai, não me lembro dele, mas é que eu já o conheci, só não me lembro dele. To sim ansioso." Nossa, essa foi a melhor manifestação de maturidade emocional que pude ver em uma criança de 8 anos de idade. Conseguir definir sua emoção e a situação a qual estava para viver.

Lógico, passamos por 3 sessões com a psicóloga da escola e esta me confirmou que realmente, ele estava bem ciente do que poderia acontecer, só a expectativa da espera é que atrapalhava, nada mais.


A vida passa rápido, temos que aproveitar todos os momentos que temos para sermos assertivos e não ficar esperando que as coisas se resolvam como queremos ou tentarmos interferir no fluxo natural da vida. Este garoto que carreguei por 9 meses no ventre, que mamou até 1 ano e 8 meses, que aprendeu a falar suas primeiras palavras com 7 meses ("Anana" e "Aná", pra identificar a banana e o guaraná que adorava tomar). 

Da primeira infância, com dependência total, passou pra independência parcial e agora está entrando na fase da independência total. 

Não sentimos o tempo passar, achamos que nossos filhos serão bebês pra todo o sempre, mas um dia, de "girino" torna-se "sapo" e de "sapo" um "príncipe".


E hoje, com 13 anos de idade, monta e desmonta seu próprio computador, pesquisa preços de placas, utiliza ferramentas de edição de vídeo como se fosse o mordedor de borracha, com uma agilidade e propriedade de conhecimento que não sei de onde tirou, eu desmontava as coisas e sempre sobrava peça na hora de montar.

Guarda seu dinheirinho pra comprar as peças que precisa, pede a própria pizza quando não estou, resolve seus problemas na escola sozinho, fala inglês fluente e ai, ai, ai... está se tornando independente! É isso mesmo, mãe as vezes, se dá o direito de sofrer um pouco quando sua cria, saudável e inteligente está ganhando o mundo, não porque ela foi capaz, muitas pessoas fizeram parte dessa evolução. Este adolescente perdeu pessoas queridas, que eram referência em sua vida, mesmo assim, me disse com a maior tranquilidade do mundo: "Estou com saudades do Dedé, sei que não tinha como ele continuar aqui, sei que era hora dele partir, mas deixa um buraco no coração. Quero chorar". 

Essa maturidade emocional é que admiro nele. Sabe o que acontece, sabe o que sente, sabe o como funciona o ciclo e sabe lidar com as situações. 

Ele é tímido, mas depois que conhece a pessoa, mostra ser a pessoa mais amorosa, gentil, educada, brincalhona e querida desse mundo.

E assim vai a vida... um ciclo se encerra, outro começa. Vida-Morte-Vida. Aprendendo com as experiências, aprendendo com as situações e pessoas. Deixando o que não nos serve mais pra trás, pois é passado e este não volta, Abrindo as portas para o novo entrar, sem medo de ser feliz. 

LUZ, AMOR e GRATIDÃO





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